Recap - Antas vs Dragão

Em homenagem aos 7 anos do Estádio do Dragão, recupero aqui um post de Maio de 2009, era este blog ainda um infante acabado de nascer, onde escalpelizava as diferenças entre o velhinho Estádio das Antas e o belo e funcional Dragão. Nada mudou na minha opinião desde então.




Sou um saudosista. Não tem nada a ver com cabedal e correntes nem com o reino da Arábia. Até sou de uma família simpática e nunca me meti nessas coisas (nem na pancada nem em arabescos, até porque não tenho jeito para desenhar), mas a saudade é algo que me toca bem cá no fundo, como Pink Floyd num quarto escuro ou Quim Barreiros em noites de Queima.

Quando em 2004 foi anunciado que a mudança para o Dragão era uma realidade, fiquei ansioso. Como abandonar o velhinho Estádio das Antas, que tanta alegria nos tinha trazido, juntamente com granizo, chuva intensa, WCs imundos, brechas no cimento e problemas nas infraestruturas de electricidade? Seria um novo mundo, uma misericordiosa palmadinha nas costas dos reumáticos, dos artríticos (esta custou) e das mulheres em geral, que iria permitir melhores condições, com modernas instalações e um carácter acentuado de conforto no espectáculo do futuro.

No entanto, mantive-me céptico. Não sou daqueles que diz que desta água não aspirarei por uma palhinha, mas perto. Não fico nada a dever a São Tomé em termos de incredulidade, tenho de mexer para ver se é verdade. É como um marido quando a mulher põe mamas novas, pronto.

Nas Antas tinha passado por muito. Grandes chuvadas, saraivadas (granizadas para os mais elitistas) e tardes de Verão tremendamente quentes. Vi grandes jogos e tive grandes tristezas. Foi lá que vi o Latapy falhar o penalty contra a Sampdoria. Foi lá que vi a Lazio atropelada com 4 no bucho. Foi lá que vi o Domingos a marcar dois ao Sporting num arranque de campeonato. Vi golos de Jardel, Kostadinov, McCarthy, Domingos, até Vinha e Quinzinho. Vi Baía e Kralj no topo da sua forma (em sentidos opostos). E acima de tudo vi futebol, muito futebol.

No Dragão as coisas são diferentes. As pessoas são diferentes, a alma mudou. Não me sinto com vontade para discorrer mais sobre o assunto, por isso fiz um pequeno apontamento gráfico que ilustra o que considero ser a utilização do tempo que os adeptos passam dentro do estádio. Tanto no antigo como no novo.


Gostava muito de saber a vossa opinião. Força aí nos comentários!!!



Continuo com vontade de saber a vossa opinião...siga a rusga!

14 comments:

Anónimo disse...

Também tenho saudades do Estádio das Antas, por tudo. Mas gosto muito do Estádio do Dragão. E então aquela imponência, logo que se chega ao cimo da Alameda e se vê toda a panorâmica...
Do Dragão noto mais a diferenciação de classes, muitas vaidades, etc e tal. Mas a vida é assim e o futebol como espectáculo, será um espelho... Ora, como são os patrocínios, leia-se empresas, que mais contribuem para a soma necessária, comparativamente ao anterior bolo da cotização... O que mais critico é a distribuição de convites por adeptos adversários, sabendo-se de muitos mouros que conseguem assim infiltrar-se.
Apesar de tudo, o Estádio do Dragão enche-me de orgulho Portista. E é um sítio de onde já tenho gratas recordações, também, desde o dia da inauguração.

http://longara.blogspot.com/

Anónimo disse...

Caro Jorge,
Nunca fui ao antigo estádio das Antas mas já tive oportunidade de ir ao Dragão ( no caso ver o Itália vs Suécia para o Euro )e posso diser, como Sportinguista, que o vosso estádio é o mais bonito e sóbrio de entre todos. Também é muito funcional.Uma excelente obra de Arquitectura e Engenharia.
Parabéns.( já agora como alguma 'inveja' do relvado )
Saudações desportivas

Orgulhoazulebranco disse...

O gráfico do Dragão está tão certo x)) "bem,faltam 15 minutos para o intervalo,é melhor ir indo para não apanhar fi.....FODA-SE!!!"

É claro que não consigo olhar para as Antas da mesma forma que tu e tantos outros portistas "veteranos" nestas andanças...afinal,o meu tio ainda se lembra de ir para as Antas às 12h30 pq o jogo começava às 15h e ele sempre gostou de ir cedo.

Também acho que não vale a pena estar para aqui a comparar as infraestruturas de um e de outro porque é perfeitamente escusado.

O que se sente ao olhar para a nossa casa prende-se com algo de transcendente,invisível aos olhos e fora do alcance das palavras.

As Antas(caramba,só de ler a palavra uma pessoa já se perde..ANTAS)são as Antas,o Dragão é o Dragão.Um não sai do nosso coração e da nossa cabeça,o outro está à mão de semear,é lindo para caraças e têm tanto,mas tanto para nos dar...

José Luís Carriço disse...

Aquelas rampas para a arquibancada calcorreei-as muitas vezes com o meu pai e o meu irmão, quando o futebol era ao domingo à tarde. Ou quando muito ao sábado (excepto, claro está, as 4ªs feiras europeias, que agora são de 3ª a 5ª - também naquele tempo os carros só tinham 4 velocidades e agora têm 5ªs e 6ªs, tem tudo a ver)...

Ainda fui a tempo de ver um ou outro daqueles golões do Oliveira, lembro-me da estreia do Juary num 2-0 ao Benfica, logo na 1ª jornada, dos cruzamentos do João Pinto, grandes duelos entre o Gomes e o Bento. Sim, cresci no tempo do Gomes e mais 10 (para o bem e para o mal, Jorge ;)

Por acaso a última vez que fui às Antas foi na despedida do Paulinho Santos, um FCP-SCP com direito a exibição da Taça UEFA, e apanhei uma molha das antigas, mas, lá está... foi a um domingo à tarde!

Agora imaginem o jogo do passado domingo nas Antas: Uma saraivada daquelas ao domingo à noite, quando na 2ª feira é dia de trabalho... se fosse de tarde ainda se aguentava, mas à noite??? Até porque molha nocturna nas Antas, só me lembro de uma de má memória: O FCP 4 Wrexham 3, na taça das taças algures em meados dos anos 80.

Por isso, acho que as Antas foram do tempo do espectáculo do futebol, agora o Dragão é claramente do tempo do futebol-espectáculo!

Ó Jorge, mas essa dos Pink Floyd num quarto escuro, eia pá! Está top-ten :D

Portuense Verdadeiro disse...

Antas vs dragão…
Desafio díficil Jorge para os meus 28 anos de vida…

As Antas serão sempre especiais porque foi aí que aprendi a gostar de futebol pela mão do meu pai que me levava sempre 3 ou 4 vezes por época ao futebol…Na altura em que havia jogos com fartura ao domingo à tarde! Sim ainda sou do tempo em que o Porto jogava às 16h…

Lembro-me perfeitamente da tristeza, quando no último jogo de um campeonato que sinceramente não me recordo de que época (tenho ideia de que o jogo seria contra o beira-mar) e que era jogo de consagração dos campeões, chegar com o meu pai à fila e já não haver bilhetes…resultado: birra e choro para o resto da tarde de domingo :-p

Também é impossível esquecer a confusão nas bilheteiras para adquirir o ingresso mágico (que as lojas azuis 1º e depois a passagem para o Dragão e a massificação da internet vieram resolver), o cheiro incómodo (para ser simpático) dos WC’s, estar na fila para entrar na superior norte e ver certas personagens castiças nos tascos que circundavam a dita cuja bancada...

A nível de infra-estrutura e de conforto, o Dragão é incomparavelmente superior mas o jogo da minha vida ao vivo foi curiosamente o Porto-Lázio e como sabemos foi acompanhado por um dilúvio de futebol e por um dilúvio que me encharcou tudo e mais alguma coisa…

No domingo fui com a minha namorada à bola e estávamos a comentar que se fosse nas Antas tinha sido uma desgraça :-) ainda para mais ela teve entrevista de emprego no dia seguinte ao jogo com o portimonense e como uma das provas eliminatórias era cantar, imagino que o mais certo era ter ficado com uma constipação medonha e não poder comparecer à entrevista caso o jogo tivesse sido nas Antas…

Outra coisa que aprecio no dragão é o lugar marcado…acho bem e se eu tenho a sorte de calhar num lugar onde posso ver o jogo em condições de excelência porque raio hei de ir para trás da baliza ver o jogo aos quadradinhos só porque um artista se sentou no meu lugar??? Nas Antas tb havia lugares marcados mas era só em teoria :-)

O meu 1º jogo ao vivo no Dragão (FCP-leiria) foi marcante pois fiquei impressionado com a beleza e imponência do estádio…Nisso as Antas levam uma goleada de 5-0 :-) Sempre que entro no nosso anfiteatro não deixo de pensar em como somos uns sortudos por ter o estádio mais belo do planeta e invariavelmente fico com um grande sorriso no rosto!!!

(continua...)

Portuense Verdadeiro disse...

Dado que o futebol se tornou num negócio, não me faz confusão nenhuma a existência de pipocas, coca-colas e afins…E tb te digo que pessoal a não saber o nome dos jogadores sempre existiu…Uma vez num jogo da Champions nas Antas, alguém não sabia quem era o nº 16 (Jardel na altura)…Só para dar um exemplo mas podia dar outros…Tb a história do pessoal sair a 10minutos do fim, como li aqui num comentário…isso não é exclusivo do Dragão…Nas Antas tb havia sempre bastante gente a sair mais cedo..

No entanto a passagem das Antas para o Dragão trouxe algumas desvantagens para quem como eu não é sócio…Em 1º lugar foram abolidos os bilhetes de estudante e de cartão jovem…Já não sou estudante e não tenho cartão jovem, mas beneficiei desses bilhetes para ver jogos mais baratos (inclusive guardo como relíquia o meu bilhete de 7.5€ da meia final contra a Lazio) e gostava que a juventude de agora e que os meus futuros filhos (não sei é quando lol…e serão portistas senão tá garantido cinto com fartura eh eh eh) também pudessem usufruir dessas benesses…Outra questão prende-se com os jogos grandes…Desde a mudança para o Dragão que os jogos grandes apenas têm venda de bilhetes exclusiva a sócios…Nas Antas isso não acontecia…Pelo menos havia também bilhetes para não sócios pois lembro-me de ir ver alguns FCP-mourada…Questões de marketing ? Talvez…

Quanto a jogadores marcantes…Nas Antas considero-me um sortudo por ter podido assistir in loco a jogos de 3 ídolos meus: Domingos, Aloísio e Timofte. Recordo também com saudade os grandes Vinha e Quinzinho :-) e Jardel, Baía, Semedo, Paulinho Santos, Zahovic, Drulovic, Artur, João Pinto, Fernando Couto….é melhor parar aqui porque a lista ameaça ser interminável…No Dragão destaco, entre outros, o Falcao, o Ricardo Carvalho e o Paulo Ferreira…e já agora o mítico Pena :-)

Tb podia falar do Krajl e do célebre jogo contra o olympiakos nas antas…ou o esnaider, pizzis, walter paz e demais baronis que evoluíram nos nossos estádios mas não quero alongar-me mt mais senão ainda me matas :-)

Abraço

Jorge disse...

carago, que grande comentário, em todos os sentidos, tanto em tamanho como em qualidade!

acho que é uma questão de saudosismo mesmo :) tenho apenas mais 3 anos que tu mas ao que parece experienciamos a mesma vivência...enfim, são tempos diferentes os que vivemos agora...

um grande abraço e os meus parabéns pelo discurso fluido e cheio de conteúdo!!!

Portuense Verdadeiro disse...

@Jorge
Danke :-) recordar é viver...é uma frase feita, eu sei, mas não deixa de ter a sua razão e foi com bastante satisfação que dei por mim a alongar-me no comentário e até deu para descobrir que existe um limite de caracteres para cada comentário :-p

Já agora um off-topic...Pink Floyd no escuro não é nada mau, especialmente a Comfortably Numb mas tens de experimentar, se ainda não o fizeste, e permite-se a ousadia da sugestão, a 9º sinfonia do beethoven ou a flauta mágica do mozart...a mim, que tenho vindo a equilibrar uma boa rockalhada com a descoberta dos clássicos, sabe-me tão bem desligar-me do mundo e disfrutar desses momentos musicais de génio :-)

abraço

Jorge disse...

clássico por clássico...antes o requiem de Mozart :)

Unknown disse...

Eu preferia o campo da Constituição, aquela proximidade dos jogadores, o piso poeirento, as bancadas de madeira, ver o Pinga e o seu portentoso pé esquerdo, ter o privilégio de comentar algumas jogadas com o Sr. Andrade, e até mesmo ver o FC Porto ganhar 5-0 ao Real Madrid. Absolutamente fantástico. Isso sim eram tempos de grande futebol, de grandes alegrias, de boas tardes cheias de conversa e puro companheirismo, sem claques nem compadrios, sem bolas de golfe nem very lights... Ah que saudades...

Paulo Alves disse...

Gostava mais das Antas. Mas há pelo menos uma constância.
As vitórias! Vitórias Azul Andrade!

Anónimo disse...

Nas Antas só gostava mais da inclinação das bancadas e, muito importante, da idade que tinha. Fui atacado com almofadas porque escoltávamos uns nadadores da académica que resolveram celebrar na pista um empate da Académica no nosso estádio (confesso que me apetecia estar a mandar almofadas em vez de estar a protegê-los, deles próprios. O homem dos gelados a passar por nós. O preço do espectáculo na altura, bastava sermos sócios.
No dragão gosto de discutir com os vizinhos do lado, um em particular, gosto de sentir os vários "portismos". Nas Antas recordo que os adeptos pensavam se deviam ou não bater palmas ao treinador quando entrava.
Vistas bem as coisas, realmente melhor só o ser mais novo.
Eduardo Cohen

Jorge disse...

@Eduardo: my point exactly...
bem vindo de volta! é sempre bom ver comentários seus sem ser no linkedin :)

Vila disse...

Lembro-me de um FCP-SLB à chuva, de pé, em que nem sentia o chão da Maratona, de tão cheio que o estádio estava.
As Antas é a nostalgia de uma adolescência... E os famosos Pasteis de Belem :D...dasse!

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